Bogotá e guerrilha se entendem em tratado reformulado após rejeição do primeiro em outubro.
Havana, 12 de novembro de 2016.
A guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o governo colombiano anunciaram a assinatura de um novo tratado de paz – uma tentativa de salvar o histórico acordo que põe fim a 52 anos de guerra no país e que foi rejeitado no referendo do dia 2 de outubro.
“Chegamos a um novo acordo de paz final para o fim do conflito armado, que contém mudanças, precisões e contribuições de diversos setores da sociedade”, anunciaram as duas partes envolvidas em um comunicado conjunto publicado em Havana.
“Um compromisso entre todos os colombianos”
As FARC e os representantes do presidente colombiano Juan Manuel Santos discutiram, desde o dia 22 de outubro, as mudanças que poderiam ser feitas para salvar o acordo de 297 páginas assinado no dia 26 de setembro após 4 anos de negociações e rejeitado em seguida.
O texto inicial, que previa a entrega das armas do grupo guerrilheiro em até 180 dias e sua transformação em um partido político, foi rejeitado pelo “não” de uma pequena maioria nas urnas (50,2%) que espera por sanções mais severas. A vitória se deu em grande parte pelo apoio e campanha do ex-presidente Alvaro Uribe, que conseguiu convencer parte dos colombianos que o antigo acordo abriria as portas do poder às FARC – em seu governo, Uribe combateu a guerrilha fortemente, se negando a negociar com os revolucionários.
A oposição ao acordo foi também apoiada por partes da igreja católica colombiana, indo de encontro ao posicionamento oficial do Papa e esperando que os guerrilheiros “pagassem por todos os crimes que cometeram”, segundo Francisco Jimenez Maroto, abade responsável pelo priorado de Bogotá. O senso de injustiça presente no acordo inicial foi também sentido pelas famílias colombianas, impactadas por todos esses anos de violência, e que representaram grande parte dos mais de 6 milhões a dizer não.
Pouco após a divulgação do resultado tanto o presidente colombiano como o chefe das FARC Rodrigo Londoño, ou “Timochenko”, reafirmaram o cessar-fogo bilateral no país. “Não me renderei e continuarei buscando a paz”, disse Santos convocando todas as forças políticas do país para um grande diálogo nacional para “decidir o caminho a seguir” e buscar um consenso na elaboração do segundo acordo.
Modificações em 57 das 60 propostas foram feitas, alterando principalmente fatores como a reintegração de ex-membros das FARC à sociedade e a polêmica criação de um partido político para a guerrilha. Além disso, muitas das propostas apoiadas pelos que disseram “não” foram adicionadas ao texto original. As medidas incluem o acesso à terra para os camponeses pobres, compensações às vítimas da guerrilha, além de um cessar-fogo definitivo e bilateral supervisionado pela ONU.
“O novo acordo deve ser um compromisso entre todos os colombianos que contribua a superar a polarização e a unir todas as expressões políticas e sociais”, disseram os negociadores. “Devo humildemente reconhecer que esse novo acordo é um melhor acordo”, declarou o presidente Santos em entrevista concedida à televisão.
De fato, o texto reformulado teve ampla aceitação no Congresso e aprovação unânime na Câmara dos Representantes da Colômbia, podendo assim ser implementada imediatamente.
Graças a este novo acordo, qual é o futuro para o país?
Por Pedro Castanheira & Lauryanne Lemos
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